“That risk is everywhere. I’d learnt early that death isn’t only something that sits below the surface of the world and tiptoes in at the end of a long life. Death is now. Death is present.”
Por Thais Sawada*
Infância. A palavra remete a um período feliz, sem grandes preocupações. Para a maioria pode ser assim. Mas definitivamente não para todos. How the Trouble Started, livro de autoria do americano Robert Williams, aborda o tema a partir de uma perspectiva mais melancólica – sem abandonar a leveza e a inocência típicos de uma criança.
A história é contada pela visão do protagonista Donald. Aos dezesseis anos, ele é um jovem solitário, sem muitos amigos – tudo por causa de um trauma de infância que continua a assombrá-lo: quando ele tinha oito anos, se envolveu em uma confusão e a polícia fora chamada.
Williams já acerta desde o início, ao não revelar exatamente o que aconteceu no fatídico dia. Pouco a pouco, à medida que Donald vai contando sua história e revelando os seus pensamentos, começamos a decifrar o mistério. O modo como o autor conduz a narrativa faz com que a curiosidade do leitor seja atiçada a cada novo detalhe.
Devido a tal confusão, Donald e sua família passam a ser hostilizados na cidade onde moram. Para tentar escapar da situação, eles mudam-se para Raithswaite. Entretanto, o adolescente é proibido de tocar no assunto – seja onde for e com quem for. Na visão de sua mãe, a melhor forma de deixar o passado para trás é enterrando-o e fingindo nada nunca ter acontecido.
Portanto, sem poder pedir ajuda a ninguém, a única maneira que Donald encontra para esquecer o passado – ao menos por alguns instantes – e conseguir seguir com a sua vida é com o que ele chama de “vanishing”. Ou seja, ele cria em sua cabeça um cenário e uma vida completamente diferentes da sua realidade. Nesses momentos, ele é uma outra pessoa, com um cotidiano pacato e sem lembranças traumatizantes para atormentá-lo.
Solitário, ele deixa de ser sentir tão sozinho quando conhece Jake, um menino de oito anos vulnerável e negligenciado pela mãe. Os dois passam a se encontrar frequentemente. Ao saber que Jake gosta de ler livros de terror, Donald começa a inventar histórias e o leva para conhecer uma suposta casa mal-assombrada.
O jovem faz tanta questão de estar perto de Jake que ficamos divididos com relação às suas intenções. Passamos a duvidar das suas atitudes, ao mesmo tempo em que entendemos um pouco a sua forma de pensar. Justamente por ser um personagem-narrador, a sensação de ambiguidade é muito forte. Afinal, o que ele conta é a sua maneira de mascarar a realidade ou apenas muita ingenuidade? Um dos trunfos do autor é que a narrativa flui de tal modo que tudo causa incerteza no leitor, que fica sem saber em qual versão acreditar.
Confesso que o final me decepcionou um pouco. Mas mesmo assim How the Trouble Started vale muito a leitura. Williams consegue contar uma história nada alto-astral com muita delicadeza – ao mesmo tempo em que lida com assuntos densos, como os efeitos de sentimentos como a culpa e a solidão. How the Trouble Started carrega um certo pessimismo em todo o seu desenrolar. Mostra que as coisas nem sempre são como num conto de fadas e que é impossível fugir do passado, por mais desagradável que ele seja – mas que é preciso, sim, aceitá-lo.
WILLIAMS, Robert. How the Trouble Started. Faber & Faber, 2012. 225 págs.
*Na última quarta-feira do mês a Thais vai comentar suas impressões sobre algum título literário por aqui :) Acompanhem!