Desafio Literário 2011 – O Ateneu

Em uma ficção que remonta cenários e acontecimentos por meio de minuciosas descrições, Raul Pompeia conta a história do Ateneu pela perspectiva de Sérgio. Aluno da instituição, ele cria uma “crônica da saudade” para contar a experiência vivida no internato durante dois anos. A construção narrativa é rica como muitos clássicos brasileiros – o autor oferece a ambientação como se pintasse uma grandiosa tela – fazendo apenas o bom uso da língua portuguesa para atingir esse fim.

O personagem Sérgio, ao início da história, concebe um mundo perfeito que observa de longe. Desde a concepção do próprio Ateneu até a descrição do diretor do local, Aristarco. A visão do garoto, a princípio, atribui estatuto de instituição ao diretor – como se o internato fosse a ele inerente.

É interessante observar a desconstrução paulatina do ideal do aluno a partir do momento em que o Ateneu passa a constituir sua realidade. Exposto como um estabelecimento de prestígio, a apresentação é alterada para um quadro degradante. A cada página, é notável o enfraquecimento do estatuto inicial tanto do diretor quanto do internato – fatos que parecem caminhar de mãos dadas.

Sérgio é um observador ávido, que escancara os absurdos do lugar de ensino a partir da perspectiva de convívio com os professores e colegas. Ele aponta, a partir de mínimas características, o quão intensa pode ser a transformação de um indivíduo comum em um ser humano desprezível.

Apesar das mazelas, há também momentos de glória. São descrições de momentos importantes da história – fatos, por vezes excessivos – que remontam fatos como se dispostos em linha cronológica. O despertar do personagem central para a arte literária também figura no livro por meio do “Grêmio Literário Amor ao Saber” – uma espécie de tomada de fôlego em meio à realidade sufocante do Ateneu.

Por meio de alegorias que contrapõem a degradação do homem a partir do cenário desmontado da instituição, Pompeia desvela sua crítica. Ela é escancarada, mas nunca se dá de maneira óbvia. Não é um clássico apreendido com facilidade, mas é essencial à formação de uma boa bagagem literária.

Retratos de uma realidade inquietante

O ditador Muammar Kadhafi, que assume o poder na Líbia há 41 anos, disse em pronunciamentos que só deixará o país morto, “como um mártir”. A população, mobilizada e irredutível, não tomou o discurso como uma ameaça. Em um momento conturbado da história da Líbia, os protestos contra o regime prosseguem.

O resultado da pesada repressão às manifestações foi o registro de milhares de mortes. A situação se agravou a tal ponto que passou a ser retratada como uma guerra civil.

As ocorrências, de tamanha importância ao país, proporcionaram diferentes registros em imagens e textos – todos cada vez mais desoladores. Benjamin Lowy, fotojornalista – com um extenso e belo trabalho, diga-se de passagem -, esteve na Líbia em março. Em meio ao trabalho de reportagem, Lowy aproveitou para capturar algumas imagens com o iPhone.

O resultado foi o projeto iLibya: Upsrising by iPhone. Um registro histórico- fotográfico com um ar despretensioso. São apenas imagens feitas com celular, sem muita elaboração. Ainda assim, o fotojornalista realiza um trabalho interessante – de forma singela, ele guardou um fato histórico por intermédio de um celular com câmera.

Algumas fotos são um tanto pesadas – talvez pela carga psicológica que carregam – mas seria um erro não conferir a série completa. Lowy já havia realizado um projeto semelhante no Afeganistão. Vocês podem conferi-lo aqui. As fotos abaixo integram o iLibya.

Arte em livros

Não fui muito feliz na escolha do título. Mas se fosse explicá-lo logo de cara, ficaria enorme. E a ideia pouco me apetece. Dizer”arte em livros” parece pleonasmo. Pois literatura é uma arte, certo? Mais ou menos. Depende do que você entende por arte e por literatura. Como gosto é algo muito pessoal, sempre tem alguém para gostar de porcarias que saem pelas lojas fantasiadas de brochura. Quem sou eu para julgar?

Independente do conteúdo, a unanimidade pode existir no tratamento dado aos livros. A forma de cuidar desses preciosos itens varia bastante – há desde pessoas que adotam cuidados especiais na forma de abrir o livro até gente que faz anotações e dobra páginas. Eu pertenci ao primeiro grupo citado por muito tempo. Hoje, maltrato um pouco. Mas não é por maldade.

Grifo passagens e faço anotações nos cantos das folhas com o intuito de deixar minha marca nos livros. É legal quando releio e me deparo com frases que mal lembrava ter grifado. No fundo, é quase uma adaptação contemporânea do Palimpsesto – um tipo de pergaminho que tinha o texto apagado para ser reutilizada. Por meio de técnicas modernas, apesar da fragilidade do material, é possível recuperar alguns dos escritos apagados. Sobre a forma de lidar com os livros, recomendo um texto bem interessante da Vanessa Bárbara, intitulado “Levanta-te e grifa”.

Pessoas como o artista Ian John não se contentam com o ato de deslizar o lápis no papel – ele cria desenhos temáticos na obra. Exato, ele pega uma das folhas e desenha algum personagem ou característica condizente com o livro. Para variar, encontrei no Etsy. Um trabalho ousado, porém muito bacana.

Lolita, do Nabokov

Almoço Nu, do Burroughs

 

Clube da Luta, de Palahniuk

Informações essenciais sobre a história da arte – em 6 quadros

Ontem senti saudades das aulas de história da arte. Meio por acidente, despertei-me para a área quando o professor nos apresentou Arnold Hauser. Embora interpretações em excesso abalem admirações inexprimíveis, adoro conhecer a história da realização de uma obra e o que os especialistas pensam. Poisé, sou pedante que adora visitar exposições. Mas não se preocupem – só incomodo as pessoas com esse assunto quando sei que elas gostam (mentira, só quando eu sei que estão aptas a entender a loucura de boa parte dos artistas).

Embora muita gente não tenha o mínimo interesse pelo assunto, há um fato inegável – a história da arte acumula muitos fatos absurdos e capazes de despertar a curiosidade sem muito esforço.

Com esse intuito, Grant Snider reuniu seis fatos mais conhecidos do mundo das artes na forma de uma história em quadrinhos. O traço dele é bem bacana, e vocês podem conferir outros trabalhos no Incidental Comics.

Digno de nota

Garantir diversão com vídeos inúteis no youtube em momentos de tédio ou procrastinação é bem fácil. Difícil é encontrar textos que te façam rolar de rir sem sair do lugar.  Tenho minha lista de favoritos, mas ela costuma passar um bom tempo inalterada. Em meio a uma das crises perante imutável lista, apelei ao tumblr. Quem lê esse desditoso blog sabe que mantenho uma relação um tanto afetuosa com o site.

Mas veja bem, o negócio é completamente visual. Cheio de gifs hilários. Se meu instinto Mãe Dináh previu uma crise ou não, mal posso dizer. Só sei que alguém atribuiu um majestoso LIKE em uma página de nome curioso no facebook e foi inevitável – tive que averiguar.

[manual prático de bons modos em livrarias] é um blog digno de nota. Sabe aquele bom humor sem esforço? É o que se vê por ali. Sei que 99% da população internética já conhece, mas né, acho injusto não compartilhar com o 1% que desconhece.  Os posts trazem diálogos travados entre livreiros e fregueses. O melhor, claro, é saber que tudo aquilo não é produção exclusiva da imaginação da autora do blog. Os absurdos, de fato, aconteceram.

Durante a primeira visita ao blog, lembrei das vezes em que fui à livraria com algumas amigas. Chegamos à conclusão – sem muito esforço – de que certas coisas não podem ser ditas em um ambiente tão culto…

O manual prático de bons modos em livrarias está aí para quebrar todos os paradigmas. A cada dia os queridos fregueses podem proporcionar diálogos dos mais improváveis. Tem de tudo. Desde gente que não sabe o que é um sebo – até uma criatura que aponta SCIPIONE como autor da Divina Comédia. A amada popularização via twitter e facebook também não poderia deixar de participar dessa festa. Clarice Lispector é até considerada autora de autoajuda, veja bem.

Indico a página de olhos fechados. Leiam sem medo de clicar no “postagens mais antigas” até o fim! E, coincidência ou não, agendei esse texto para postar hoje. Justo no dia em que o texto da autora do manual foi publicado no excelente Blog da Companhia das Letras. Confiram! 

when we were teenagers

…we wanted to be the sky. now all we wanna do is go to red places and try to stay outta hell.

O tempo não afaga. Pelo contrário – não possui piedade alguma. Quanto mais passa, mais reaviva certas marcas do passado. Sempre por meio de um procedimento que fere até mesmo os mais fortes de espírito. Há coisas que ficam, e dificilmente é possível apagar. Mas há outras que, embora doam, esboçam o caminho de volta acompanhados por uma inofensiva nostalgia.

Colors and the kids contrapõe minha atualidade com aquilo que fui em um 2005 esquecido. A sensação de distanciamento é a mesma, mas nada é se compara à despreocupação de alguém que pouco sabia sobre a vida. A mim bastava ter uma oportunidade para fotografar objetos, paisagens, ou mesmo crianças brincando com pétalas de flores para me esquecer por completo dos compromissos.

Em poucos segundos a canção me transporta à esperança contida dos anos idos. É possível sentir o tilintar interno ao pensar que, embora invadida por singelos sonhos, tudo parecia factível. Colors and the kids resume, hoje, minha letargia perante uma realidade imutável.

Matei o Música de Terça por uma boa causa. O blog é pessoal, e o intuito é ter liberdade para escrever o que me vier à mente. É horrível ter um dia único na semana para falar sobre música, ter que escolher uma canção específica ou uma banda. Prefiro ligar a faixa de trilha sonora à uma sensação.

Ausente de pretensões, espero despertar algo mais sensorial em possíveis leitores. Chega de segmentos, regra de dias para postar. Quero oferecer a possibilidade de tocar a música não apenas com os ouvidos. Já pode sonhar em paz?

Sobre marcadores de página

Tenho memória fraca para números. Parece-me impossível lembrar com exatidão. Se não anotar, nem adianta criar expectativas. Sempre vou me lembrar de um número aproximado. Só eu sei o quão difícil foi decorar o número do celular. E o de casa? Até hoje não consegui. Apesar de que ainda possuo alguns créditos com este, que chegou por aqui há um ano.

Agora imaginem fechar um livro e me lembrar da página ao abri-lo novamente. Praticamente impossível. Com algumas obras era possível lembrar pelo capítulo – embora muitas vezes eu me lembrasse mais do título, e não do número. As complicações apareciam quando me deparava com capítulos muito extensos, ou mesmo quando pegava algum livro gigante para estudar, mas só precisava de algumas páginas.

E foi em meio à tamanha dificuldade para lidar com os instrumentos essenciais à matemática que passei a fazer meus próprios marcadores de páginas. Imprimia um mundo de imagens, colava na cartolina, recortava e plastificava. Isso acontecia há 12 anos ou mais, na verdade, mas ainda tenho alguns guardados.

Felizmente, a maioria das livrarias sempre disfarçou piedade pelos desalentados sem marcadores de páginas. Nada mais justo que brincar de altruísmo enchendo um pequeno pedaço de papel com propagandas.

Não que eu me importasse.

Até que amigos começaram a trazer marcadores graciosos como lembrancinha das viagens que faziam. Acostumaram-me tão mal que hoje tenho a maior cara de pau de pedir um marcador para toda pessoa que comete a burrada de falar sobre uma futura viagem perto de mim.

Feiras do livro e bienais da vida também são propícias – os stands distribuem um mundo de marcadores a quem passar e eu, claro, faço a festa.

O vício foi remediado com o passar do tempo. Até porque já adotei meus marcadores prediletos. São da Livraria Cultura. Práticos, não escorregam na página, muito menos a rasgam. Um sucesso.

Uma parte da minha "coleção"; um dos marcadores magnéticos da Cultura no Dom Quixote

De tempos em tempos, costumo procurar marcadores diferentes na internet. E quando você acha que a criatividade dos designers já se esgotou, eles te surpreendem mais uma vez. Existe uma infinidade de marcadores, um mais criativo que o outro. Alguns são acessíveis, mas para outros, haja grana…

De qualquer forma, resolvi compartilhar modelos interessantes que encontrei por aí:

Simples, porém simpático

Outro básico. Dá para baixar no site, basta clicar sobre a foto :)

Gosto da ideia, mas achei o preço um tanto absurdo ($29)

Mais um da DesignBoom.

Ótima apropriação do livro de cabeceira. Criativo e perfeito para quem gosta de ler e tem medo de escuro

O mais prático. Serve como uma pequena estante, e ainda dá para apoiar a leitura do momento