Em uma ficção que remonta cenários e acontecimentos por meio de minuciosas descrições, Raul Pompeia conta a história do Ateneu pela perspectiva de Sérgio. Aluno da instituição, ele cria uma “crônica da saudade” para contar a experiência vivida no internato durante dois anos. A construção narrativa é rica como muitos clássicos brasileiros – o autor oferece a ambientação como se pintasse uma grandiosa tela – fazendo apenas o bom uso da língua portuguesa para atingir esse fim.
O personagem Sérgio, ao início da história, concebe um mundo perfeito que observa de longe. Desde a concepção do próprio Ateneu até a descrição do diretor do local, Aristarco. A visão do garoto, a princípio, atribui estatuto de instituição ao diretor – como se o internato fosse a ele inerente.
É interessante observar a desconstrução paulatina do ideal do aluno a partir do momento em que o Ateneu passa a constituir sua realidade. Exposto como um estabelecimento de prestígio, a apresentação é alterada para um quadro degradante. A cada página, é notável o enfraquecimento do estatuto inicial tanto do diretor quanto do internato – fatos que parecem caminhar de mãos dadas.
Sérgio é um observador ávido, que escancara os absurdos do lugar de ensino a partir da perspectiva de convívio com os professores e colegas. Ele aponta, a partir de mínimas características, o quão intensa pode ser a transformação de um indivíduo comum em um ser humano desprezível.
Apesar das mazelas, há também momentos de glória. São descrições de momentos importantes da história – fatos, por vezes excessivos – que remontam fatos como se dispostos em linha cronológica. O despertar do personagem central para a arte literária também figura no livro por meio do “Grêmio Literário Amor ao Saber” – uma espécie de tomada de fôlego em meio à realidade sufocante do Ateneu.
Por meio de alegorias que contrapõem a degradação do homem a partir do cenário desmontado da instituição, Pompeia desvela sua crítica. Ela é escancarada, mas nunca se dá de maneira óbvia. Não é um clássico apreendido com facilidade, mas é essencial à formação de uma boa bagagem literária.